ARTIGOS ORIGINAIS
CISTO PILONIDAL SACROCOCCÍGEO: RESULTADOS DO TRATAMENTO CIRÚRGICO COM INCISÃO E CURETAGEM
Pilonidal Sinus: Surgical Treatment Results with Incision and Curettage
FLÁVIA BALSAMO1; ALLINE MACIEL PINHEIRO BORGES2; GALDINO JOSÉ SITONIO FORMIGA3
1 Assistente do Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis, São Paulo- S.P., TSBCP; 2 Ex-residente do Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis, São Paulo-S.P, FSBCP; 3 Chefe do Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis, São Paulo- S.P., TSBCP.
Resumo: duzentos e treze doentes com cisto pilonidal sacrococcígeo foram submetidos a tratamento cirúrgico pela técnica de incisão e curetagem, no período de janeiro de 1997 a dezembro de 2006. Foram avaliados o sexo, a idade o tipo de anestesia, o tempo de internação, período de cicatrização, complicações e seguimento. Conclui-se que a técnica de incisão e curetagem é uma boa opção no tratamento cirúrgico do cisto pilonidal sacrococcígeo, proporcionando tempo aceitável de cicatrização e baixos índices de recidiva.
Descritores: Cisto pilonidal, Curetagem, Anestesia local, Tratamento, Cicatrização.
INTRODUÇÃO
O cisto pilonidal consiste em processo inflamatório crônico que ocorre com bastante
frequência na região sacrococcígea, estando geralmente
associado à presença de pêlos. É mais comum em homens
do que mulheres na razão de 3:1, principalmente no
início da terceira década de vida
1,2.
Esta doença foi inicialmente descrita por
Mayo, 18333-5 e Anderson, em 1847
6,7. Os métodos empregados para seu tratamento eram baseados em
estudos embriológicos5 e que explicavam a doença com
base em origem congênita. Foram postuladas diversas
teorias dentro deste âmbito como a presença de
vestígios do canal medular, tração ou inclusão dermóides e
a presença dos vestígios glandulares
7. Tais teorias justificariam a exérese completa destes
remanescentes embriológicos
5,8,9.
Em 1946, Patey e Scarff levantaram a possibilidade de uma forma adquirida da
enfermidade, a qual atingiu popularidade, após sucessivas
investigações clínicas e histopatológicas
4,8,10. Estes autores demonstraram a ausência de folículos pilosos
no cisto3 e a reação granulomatosa de corpo
estranho 7,11,12. Surgiram diversas abordagens cirúrgicas
e dentre estas a técnica da incisão e curetagem
que, pela simplicidade de execução e pela pouca
excisão tecidual, adequou-se a esta proposição,
favorecendo também a utilização da anestesia local
associada e sedação 4,7,
12.
O objetivo deste trabalho é descrever a
experiência com o tratamento cirúrgico do cisto
pilonidal sacrococcígeo, no Serviço de Coloproctologia do
Hospital Heliópolis _ SP, utilizando-se a técnica de
incisão e curetagem em período de dez anos.
PACIENTES E MÉTODOS
Foi realizado estudo retrospectivo, no
período de janeiro de 1997 a dezembro de 2006, com
portadores de cisto pilonidal sacrococcígeo não complicado
tratados pela técnica de incisão e curetagem.
Não foram incluídos no estudo crianças ou
pacientes com cisto pilonidal recidivados. Foram
resgatados dados tanto de prontuários de internação
como de seguimento ambulatorial.
Os pacientes foram submetidos a exame
físico geral e local minuciosos, com finalidade de
registrar a extensão da lesão, localização dos orifícios
fistulosos, e o perfil psicológico de cada paciente. Tais
cuidados permitiram identificar aqueles com perfil
psicológico suscetível à realização do tratamento cirúrgico
com anestesia local ou bloqueio.
A sedação, quando associada a anestesia
local, foi realizada com Midazolan, administrado por
via endovenosa na dosagem de 0,1 mg/Kg, com
finalidade principal de produzir amnésia no início da
infiltração, momento de maior dor. O tipo de infiltração
anestésica foi em forma de "leque" em torno da lesão,
utilizando-se inicialmente dois pontos de infiltração laterais e,
posteriormente, na extremidade proximal e distal da
lesão, formando assim um losango de área anestesiada
em torno da mesma. Os anestésicos locais utilizados
foram a Lidocaína 2% e Bupivacaína 0,5%
sem vasoconstritor, com o cuidado de não ultrapassar a
dosagem de segurança de cada droga. Tal
procedimento foi acompanhado de monitorização cardiológica
e oximetria por membro da equipe cirúrgica ou da
equipe de anestesia. Nos casos onde escolhemos o
bloqueio, deixamos ao encargo da equipe de anestesia
a escolha das drogas a serem utilizadas.
Todos os pacientes foram submetidos ao procedimento de incisão e curetagem, técnica em que os
orifícios fistulosos são cateterizados com estilete,
iniciando-se pelo orifício primário da lesão em direção aos
secundários, com posterior incisão dos trajetos, regularização
dos bordos, curetagem do tecido de granulação,
hemostasia com eletrocautério e curativo habitado em área cruenta.
Os dados referentes a idade, sexo, raça,
tipo de anestesia, tempo de internação, período de
cicatrização, complicações e seguimento foram
submetidos a análise estatística, tendo a estatística descritiva
sido contemplada com a apresentação de gráficos e
tabelas de frequências absolutas e relativas (%). A
análise dos dados foi obtida pelo teste de t de Student,
para variáveis contínuas e teste não paramétrico do
qui-quadrado para variáveis nominais.
Em todas as situações analíticas foi utilizado
o limite de 5% (p<0,05) para afirmativa de diferença
estatisticamente significante. Foi utilizado o
software SPSS 13.0 (Chicago-USA) para as análises.
RESULTADOS
Foram estudados 213 doentes operados de cisto pilonidal sacrococcígeo não complicado pela
técnica de incisão e curetagem no período de janeiro
de 1997 a dezembro de 2006.
A idade dos doentes variou de 13 a 74 anos, sendo que 172 (80,7%) tinham idade entre 13 e 30
anos. (Figura 1) Quanto ao sexo, 136 (63,8%) pertenciam
ao masculino e 77 (36,2%) ao feminino. (Figura 2)
Figura 1 - Distribuição por sexo. |
Figura 2 - Distribuição por idade. |
Figura 3 - Raça. |
Figura 4 - Tipo de anestesia . |
ABSTRACT: From January 1997 to December 2006, 213 patients with pilonidal sinus have undergone on surgical treatment with incision and curettage technique. We analyzed age, sex, the anesthetic and surgical procedures, recovery as well as healing time and follow up. We have concluded that incision and curettage in surgical treatment of pilonidal sinus is a good option, with quick recovery and an acceptable healing time.
Key words: Pilonidal sinus, Curettage, Local anesthetic, Treatment, Healing.
Referências
1. Billingham RP. Pilonidal disease, anal cancer, Bowen's
and Paget's diseases, foreign bodies and hidradenitis
suppurativa. Anorrectal Miscellany, 1999;26:171-7.
2. Blake PP, Bardavid CS, Guzman HC, Rodriguez LG,
Albarran VR, Alamo MA, et al. Tratamiento quirúrgico del
quiste pilonidal. Rev Chil Cir, 1997;49:692-7.
3. Karydakis GE. Easy and successful treatment of
pilonidal sinus alter explanation of its causative process. Aust
NZJ Surg, 1992;62:385-9.
4. Ramos AC, Galvão MPN, Cecconello I, Zilberstein B.
Tratamento do cisto pilonidal utilizando eletrocauterização.
Rev bras Coloproct, 1998;11:5-8.
5. Hull TL, Wu J. Pilonidal disease. Surg Clin N
Am, 2002;82:1169-85.
6. Goligher JC - Cirurgia del ano, recto y colon. 2ª.
ed., Salvatti,1987.
7. Silva JH - Cisto pilonidal sacrococcígeo. Contribuição ao
tratamento cirúrgico pela técnica de incisão e curetagem.
São Paulo, 1972. (Tese de doutoramento da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo).
8. Roldos LEV, Aragón ER. Tratamiento quirurgico
ambulatorio de la enfermedad pilonidal. Rev Cubana Cir, 1990;29:309-13.
9. Nahas SC, Sobrado CW, Araujo SEA, Imperiale AC,
Habr-Gama A, Pinotti HW. Resultados do tratamento cirúrgico
de cisto pilonidal não complicado. Rev Hosp Clin Med S
Paulo, 1997;52:287-90.
10. Akinci OF, Bozer M, Uzunkoy A, Duzgun SA, Cuskun
A. Incidence and aetiological factors in pilonidal sinus
among turkish soldiers. Eur J Surg, 1999;165:339-42.
11. Bascom JU. Cirurgia pilonidal: como adequar o tratamento
à enfermidade. Rev bras Coloproct, 1996;6:89-94.
12. Rossoni MD, Albino PA, Nunes BLBBP, Abud RM,
Formiga GJS, Silva JH. Cisto pilonidal fistulizado de margem
anal-relato de dois casos. Rev bras Coloproct, 1997; 17 :251-3.
Endereço para correspondência:
FLÁVIA BALSAMO
Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis
R. Cônego Xavier, 276- Vila Heliópolis
04231-030 - São Paulo, SP
Tel.: (11) 2274-7600 (ramal 244)
Fax: 11-2247-7646
E-mail: flabal@uol.com.br
Recebido em 06/03/2009
Aceito para publicação em 06/04/2009
Trabalho realizado no Serviço de Coloproctologia do Hospital Heliópolis, São Paulo, S.P.